Pode ser bom, pode ser… diferente!

silvia farol

Hoje, 21 de março, se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down e esse post é dedicado com muito amor às mães que vivem a enorme aventura de ter um filho diferente, seja ele portador da síndrome ou de qualquer outra característica.

Vivemos numa época em que a maternidade é sacralizada, perfeita e inundada apenas de amor. Onde as angústias maternas, os medos, as negações e as inseguranças são guardadas à sete chaves. Onde nas rodas de conversa, sejam elas reais ou virtuais, todas as crianças são perfeitas, boazinhas, dormem a noite toda, comem de tudo, não fazem birra e não desobedecem e, quando uma de nós corajosamente assume que com seu filho não é bem assim, é vista como incompetente, incapaz e sem domínio sobre a própria prole.

O fato é que, toda maternidade, seja ela de crianças “normais” ou com alguma característica física ou mental diferente, é um desafio diário, onde não existem fórmulas mágicas, receitas prontas ou resultados fáceis de serem alcançados. A diferença entre uma e outra, estará basicamente em buscar caminhos alternativos e, muitas vezes mais longos, para se alcançar o mesmo objetivo: formar pessoas seguras de nosso amor, de suas potencialidades (sejam elas quais forem) e que se sintam respeitadas nesse mundo.

Os anos passam e não encontro texto mais significativo do que o de Emily Perl Knisley, para ilustrar a vida de uma família que tem um filho diferente: Bem-vindo à Holanda

“Freqüentemente, sou solicitada a descrever a experiência de dar à luz a uma criança com deficiência – Uma tentativa de ajudar pessoas que não têm com quem compartilhar essa experiência única a entendê-la e imaginar como é vivenciá-la.

Seria como…

Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias – para a ITÁLIA! Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos! O Coliseu. O Davi de Michelângelo. As gôndolas em Veneza. Você pode até aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante.

Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você arruma suas malas e embarca. Algumas horas depois você aterrissa. O comissário de bordo chega e diz:

– BEM VINDO À HOLANDA!

– Holanda!?! – Diz você. – O que quer dizer com Holanda!?!? Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu sonhei em conhecer a Itália!

Mas houve uma mudança de plano vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar.

A coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente.

Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.

É apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que a Itália. Mas após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar ao redor, começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrants e Van Goghs.

Mas, todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália, estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E por toda sua vida você dirá: – Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu havia planejado!.

E a dor que isso causa nunca, nunca irá embora. Porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa.

Porém, se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais sobre a Holanda.”

A minha família materna, a família Corrêa, tem “estado na Holanda” a 36 anos e aprendido durante todo esse tempo como esse lugar pode ser belo, encantador, puro, divertido e surpreendente, ao mesmo tempo em que pode ser desafiador, angustiante e assustador. A pessoa que nos levou para lá foi Sílvia, uma mulher linda, perspicaz, inteligente, com uma capacidade gigantesca de amar e perdoar e de nos acolher a todos com sua pureza e delicadeza. Imagino o quão difícil deve ter sido para os meus avós receber a notícia de que não chegariam à Itália, mas não consigo imaginar nossa vida sem essa grande e emocionante viagem.

silvia e filipe 2silvia janela

Esse texto também é pra você minha tia/irmã amada. Pra quem Filipe deu o primeiro sorriso, como quem ele conversou pela primeira vez, que me acolheu no meu puerpério quando ele chorava por horas a fio e me acalmou enquanto o acalmava. Pra você que já propôs casar com meu marido e cuidar bem dele, mesmo que pra isso eu tivesse que sair da cena familiar. Te amo muito, sobretudo por suas diferenças.

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6 comentários sobre “Pode ser bom, pode ser… diferente!

  1. Adorei a passagem da autora sobre a Holanda,também me preparei p essa viagem a Itália mas acabei desembarcando na Holanda e vivo aqui a 15 anos com uma moça linda chamada Gabriele.Realmente muitas pessoas me perguntam como foi quando descobrir e como é ser mãe de autista.E muitas vezes sabia realmente como é, mas n sabia como responder algo q p mim é tão óbvio e normal,mas agora vou usar essa ilustração. E obrigada por compartilhar essa experiência linda em família com a Silvia,realmente só quem convive com pessoas especiais sabe como é gratificante.Principalmente em um mundo onde é cobrado perfeição e fingimentos,vem essas pessoas com suas “imperfeições” e tanta sinceridade que choca os presentes. Amo essa diferença. Bjs p vc e p Silvia!

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    • Aline, conheço esse texto a mais de 10 anos e realmente não encontro nada mais claro pra explicar como pode, num primeiro momento, trazer perplexidade a descoberta de se ter um filho/irmão/parente diferente, e depois, como pode ser maravilhosa essa experiência. Beijos pra você e sua Gabriele.

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