Até quando amamentar?

Para fechar a Semana Mundial de Aleitamento Materno – SMAM 2015, compartilho aqui uma reflexão que venho fazendo a 24 meses: porque a amamentação prolongada incomoda tanta gente?

Ah, você não sabia que incomodava? Pois lhe digo que basta ter um filho maior de 12 meses mamando no peito pra começar a ouvir comentários do tipo:

  • Nossa, ainda mama?
  • E vai mamar até quando?
  • Não está na hora largar esse peito e comer não?
  • Correndo pra todo lado e ainda mamando? Quem mama em pé é bezerro!
  • Quando é que você vai desmamar?
  • Um menino grande desses ainda grudado no peito?
  • Coitado do pai, perdeu o peito… (essa é uma das piores!)

Se a criança tiver mais de 24 meses então, a expressão de espanto e o tom de indignação das perguntas cresce exponencialmente.

Volta e meia aparece uma notícia na mídia de mãe amamentando criança de quatro, cinco anos e os comentários são quase de apedrejamento.

Aí eu me pergunto e te pergunto: qual é o problema em uma criança maior continuar mamando? A quem e porque incomoda? Que mal faz se esse é o desejo do binômio mãe-bebê?

Realmente me assusta dizerem para o meu filho de 24 meses que ele já é grande e não tem que mamar mais. Como assim uma criança de 24 meses é grande? E quem disse que uma de quatro ou de seis anos é?

O achatamento da infância é um fenômeno da nossa sociedade ocidental e pode ser verificado em vários aspectos. Crianças que se vestem como adultos, que seguem agendas dignas de grandes empresários, que tem rotinas rígidas, que precisam aprender a dureza do mundo, que não podem errar, que são estimuladas em sua sexualidade desde cedo…

Não se pode mais ser criança porque não há quem possa cuidar de crianças. Crianças, na essência da vivência, demandam assistência, paciência, tempo, perseverança e esses são atributos que não cabem na vida corrida do século XXI, onde até o tempo livre é prisioneiro dos “compromissos” virtuais.

A criança não nasce no tempo dela porque não se pode esperar pelo imprevisível. Tanto família quanto equipe médica precisam se programar para o evento, então marcamos a cesárea.

A criança não pode demandar atenção da mãe durante a noite, porque a mãe precisa dormir para trabalhar no dia seguinte, então ensinamos os bebês a dormir a noite toda deixando-os chorar no quarto ao lado.

A criança não pode demorar para desfraldar porque dá trabalho e custa dinheiro trocar fraldas, então forçamos o desfralde precoce.

A criança não pode demorar a ser alfabetizada porque se não será prejudicada na luta por uma vaga no mercado de trabalho, então a matriculamos na melhor e mais rígida escola que pudermos encontrar, o quanto antes.

E por aí as coisas acontecem, incluindo a amamentação, que representa não apenas nutrição, mas também vínculo e este precisa ser interrompido o quanto antes em nome da independência do pequeno ser.

O que me admira é uma sociedade que diminui a infância, mas tolera uma adolescência ilimitada.

Meu filho de 24 meses não devia estar mamando porque já é grande pra isso, mas não há problema nenhum numa pessoa de 30 anos escolher continuar na casa dos pais a viver uma vida independente. Não há problema em adultos que não conseguem definir que carreira seguir e chegam aos 30 anos sem uma experiência profissional satisfatória. Não há problema em um adulto tentar inúmeros relacionamentos como se fosse um adolescente de 15 anos porque ele estará em busca de sua felicidade.

Tá tudo de cabeça pra baixo e as pessoas parecem não perceber. Porque não deixar as crianças serem crianças enquanto é tempo de infância, oferecendo a elas todo suporte de que necessitam para que, assim, amadureçam e, no tempo certo, se tornem adultos realmente independentes e seguros de si?

Eu continuo determinada a  seguir devagar, como guia, No passo dos meninos. É um enorme desafio nessa sociedade que nos cobra pressa, resultados rápidos e prontos e passos largos, mas é meu desejo continuar a caminhada nesse ritmo, com mais amor e menos pressa. Vamos juntos?
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5 comentários sobre “Até quando amamentar?

  1. Nossa lembro de ter ouvido a maioria das frases que você citou quando Sofia se aproximava do primeiro aninho e ainda mamando no peito. É difícil ouvir e ter que ficar justificando. Parabéns por conseguir manter o ritmo que entende ser o melhor para o seu filho.

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  2. Que texto lindo!! Ívina, a Lucélia que me indicou seu blog, pois tenho uma filha de 13 meses que mama e muito, e estou gestante de 23 semanas… diante das minhas inúmeras dúvidas e conflitos com relação à saúde emocional da minha filha e à amamentação em tandem, ela me disse pra fazer uma visita ao seu espaço. Estou aqui, degustando seus textos, me identificando e me emocionando! Obrigada por partilhar suas experiências de forma tão especial.

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