Final de gestação – quando ir para a maternidade?

A cena é clássica e você já a assistiu inúmeras vezes em filmes e novelas. Mulher no final da gestação dá um grito avisando que a bolsa de águas rompeu ou que sentiu uma contração. Todo mundo em volta se desespera, a coloca num carro que parte em alta velocidade para o hospital pois o bebê está prestes a nascer. Será?

bolsa rota

Você sabia que há partos em que a bolsa não se rompe e os bebês nascem empelicados, ou seja, dentro da bolsa? Sabia que há outros casos em que a bolsa de águas se rompe e a mulher demora dias para entrar em trabalho de parto? Sabia que uma contração sozinha não é trabalho de parto?

Mas, afinal, quais são os sinais de que o trabalho de parto realmente começou e é chegada a hora de ir para a maternidade?

Antes de continuar, é importante deixar claro que as informações aqui partilhadas não substituem a avaliação do profissional de saúde que acompanha a gestante, especialmente se os sinais descritos acontecerem antes da 37ª semana de gestação, tratando-se de um começo de trabalho de parto prematuro.

Mas vamos lá, muitas mulheres sentem contrações por dias ou semanas sem estarem em trabalho de parto. São as chamadas contrações de treinamento, ou de Braxton Hicks, ou pródromos. Nessa fase o corpo está, literalmente, treinando para o trabalho de parto que virá. Você pode sentir a barriga endurecer totalmente, ou apenas parte dela. Algumas são praticamente indolores, outras mais doloridas, demandando uma mudança de posição ou uma respiração mais profunda.

Na gestação de Filipe, eu tive contrações de treinamento desde a 37ª semana e ele só nasceu com 41!!! Confesso que as primeiras me assustaram um pouco, mas com a orientação da doula, passei a aproveitar tais contrações para focar na respiração e, nas mais doloridas, na vocalização. Rebolar e mudar de posição também eram boas alternativas.

Entretanto, existem mulheres que entram em trabalho de parto sem passar por tais contrações de treinamento, ou mulheres que sentiram numa gestação e não sentiram em outra. Não é regra, mas pode acontecer e é interessante saber do que se trata.

E como vou saber se o que estou sentindo são contrações de treinamento ou contrações de trabalho de parto? Bem, uma resposta objetiva seria: relaxe, você vai saber!!!!!!!!!!!! Mas pra deixar um pouco mais claro, contrações de treinamento não tem regularidade ou ritmo. Elas vem e somem, ou vem várias próximas umas das outras e depois somem novamente.

contrações

Portanto, correr para o hospital na primeira dorzinha não costuma ser muito produtivo. Duas coisas podem acontecer:

  1. Numa maternidade pública, você será avaliada, constatarão que não se trata de trabalho de parto e te dirão pra voltar pra casa. Nessa hora a família toda se desespera porque considera que o profissional de saúde está sendo negligente afinal, a gestante está com dor! Quando, na verdade, ele está sendo coerente em não admitir alguém que não está em trabalho de parto e que pode levar dias para entrar no bendito trabalho de parto!
  2. Numa maternidade privada você será avaliada, constatarão que não se trata de trabalho de parto, mas as chances te admitirem mesmo assim são enormes, afinal, você é cliente e ninguém dispensa cliente. Ainda que você entre numa loja pra comprar sapato e o vendedor não tenha o sapato, ele te oferecerá uma sandália. O raciocínio para muitas maternidades privadas, infelizmente, tem sido esse. Você não está em trabalho de parto, mas vamos te internar pra você se sentir mais segura e, se as coisas não progredirem, a gente dá uma mãozinha e aplica um “sorinho” pra adiantar o processo. Pronto, a derrocada do parto começa ali.

Contrações de trabalho de parto ativo são ritmadas e regulares. Pra se ter uma ideia, num trabalho de parto ativo, são sentidas 3 contrações a cada 10 minutos. Nessa hora, é possível que o processo de dilatação do colo do útero esteja avançado e seguir para a maternidade é a indicação. Não significa que o bebê nascerá em poucos minutos, mas que o trabalho de parto está em fase ativa.

Já no caso da bolsa rota, é importante uma avaliação médica para que seja feita profilaxia, uma vez que, com o rompimento da bolsa, o útero estará suscetível a contaminação externa, especialmente se forem realizados muitos exames de toque. Boa parte das gestantes com rompimento de bolsa após a 37ª semana entra em trabalho de parto espontaneamente em até 48 horas, mas não são todos os médicos que aguardam esse tempo e ainda existem aqueles que esperam pelo trabalho de parto por mais de 48 horas, mantendo uma avaliação mais criteriosa dos batimentos cardíacos e da mobilidade do bebê, além do estado geral de saúde da mãe. Parece assustador para muitos, mas o fato é que o líquido amniótico se recompõe. Se sua bolsa rompeu, observe a cor e o cheiro do líquido e informe o profissional de saúde que lhe acompanha, mas não é o caso de sair desesperada, furando todos os sinais de trânsito da cidade, receosa do bebê nascer em poucos minutos! Bolsa rota sozinha não indica trabalho de parto!

bolsa rota 2

Trabalho de parto ativo é caracterizado por contrações regulares, com intervalo pequeno entre elas (3 a cada 10 minutos), com duração significativa (cerca de 1 minuto cada), com dilatação progredindo.

Dilatação é processo de abertura do colo do útero para permitir a passagem do bebê. Esse colo vai afinar e abrir para que, à medida que o útero contrair, o bebê desça um pouco pelo canal vaginal, como se estivesse vestindo uma camisa de gola rolê. A dilatação é estimulada por hormônios liberados no trabalho de parto e facilitada pela livre movimentação da mulher. Assim, caminhar, subir e descer escadas, rebolar, dançar, fazer movimentos circulares na bola de pilates ajudam a pelves e o colo do útero no processo de abertura.

A dilatação não é medida em dedos! Apenas o começo, depois é medida em centímetros. A dilatação completa, para a passagem do bebê, costuma ser de 10 centímetros e, um trabalho de parto ativo terá, além de contrações regulares, uma dilatação progressiva. Não adianta ter um monte de contração se o colo do útero estiver fechado. O bebê não tem como descer!

A dilatação também pode começar sem que se sinta contrações. Há mulheres que passam semanas com 2 ou 4 centímetros de dilatação, mas não estão em trabalho de parto. Por isso, exames de toque fora do trabalho de parto não servem pra muita coisa além de deixar a gestante ansiosa.

A experiência que vivi com Filipe foi de dilatação silenciosa. Explico: eu pedi pra não saber a dilatação. Na véspera de completar 41 semanas eu senti minha calcinha molhar muito. Achei que a bolsa tivesse rompido e avisei à obstetra que me acompanhava. Ela foi me avaliar na manhã seguinte e, precisou fazer um toque para se certificar de que a bolsa estava íntegra ou rompida. Estava íntegra, havia sido alarme falso. Nesse toque, ela constatou que eu estava com 4 centímetros de dilatação, apesar d’eu não sentir nada além das contrações de treinamento. Como havia pedido pra não saber, ela foi embora e eu passei o dia tranquila, lendo e tomando chá. No fim da tarde caminhei bastante na rua, subi e desci escadas e, quando me deitei pra dormir as 20 horas, entrei em trabalho de parto já em fase ativa: 3 contrações a cada 10 minutos e algumas com duração de 1’30”. Filipe nasceu 4 horas depois.

Levei cerca de 12 horas pra sair de 4 para 8 centímetros de dilatação, mas sem sentir dor ou contrações fortes. Há mulheres que dilatam o mesmo tanto em 24 horas, outras em 2 horas. Não existe métrica pra isso pois cada corpo é um e cada gestação única.

O importante é que a mulher conheça o processo, permaneça conectada com os sinais que seu corpo lhe fornece e mantenha a calma e a serenidade para, assim, procurar assistência de profissional de saúde quando ela for realmente necessária, sem ficar indo e vindo da maternidade.

Quer saber mais sobre trabalho de parto? Prometo um post exclusivo sobre as fases do trabalho de parto afinal, é nessa onda que estou surfando nas últimas semanas à espera do meu.

6 comentários sobre “Final de gestação – quando ir para a maternidade?

  1. Eu também tive um trabalho de parto “a jato”, mesmo sendo a primeira gestação. Comecei a perder o tampão (calcinha melou com uma gosminha e pouco sangue) em um domingo de noite. Falei com o obstetra e ele perguntou se haviam outros sinais. Não, nenhum. Então fui dormir. No outro dia, às 11h minha bolsa se rompeu. Nenhuma contração. Fui ao obstetra pra ele me examinar e, no caminho, já entrei em TP ativo, com contrações (doloridas) de 3 em 3 min. Segui pra maternidade e passei por um toque: estava com 8 cm. Fiquei na sala de parto à vontade, sentada na bola de pilates, recebendo massagem do marido, ouvindo meu playlist – mas concentrada pois estava sentindo bastante dor. Senti vontade de fazer força às 15h e, duas horas depois, minha bebê nasceu. Pensei que eu fosse enlouquecer de tanta dor, mas ela foi completamente esquecida depois que ela saiu de dentro de mim. Minha vó sempre me disse isso e eu achava que era história.

    Imagino a sua expectativa prestes a dar a luz pela segunda vez. Apesar de já não ser um evento desconhecido, refere-se a um momento muito importante na vida de uma mulher. Desejo de todo coração passar por isso novamente.
    Que Deus lhe dê uma boa hora!
    Bjs

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  2. Pingback: Os sabores do parto | No passo dos meninos

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