Eu passei sete anos do meu casamento sem desejar filhos. Acreditava e afirmava que não havia espaço para eles no estilo de vida que meu marido e eu havíamos escolhido para nós (um dia escrevo mais sobre isso).
Apenas em 2012 entendi que ter filhos também era uma forma de servir a Deus e assim nasceu Filipe. Ele ainda era bebezinho quando as pessoas começaram a me perguntar se ficaria só com ele ou teria outros e a resposta era uma só: não sei, ainda não conversamos com Deus a respeito.
Quando Filipe fez um ano o assunto veio à tona em casa. Oramos e nos colocamos à disposição de Deus para o que Ele tivesse planejado pra nós. Aos poucos a certeza foi crescendo, nos programamos para o segundo e ele foi concebido com Filipe ainda aos 15 meses.
Foi então que as mesmas pessoas que nos perguntavam se teríamos mais filhos começaram a nos “preparar” para as dificuldades que enfrentaríamos tendo filhos em idades tão próximas e as situações de ciúmes que certamente apareceriam. Diziam a mim e, o pior, a Filipe, que ele teria que desmamar (já falei aqui que isso é tabu), que perderia seu reinado, que teria que dividir o dengo, que a farra estava acabando e blá, blá, blá.
Além da utilíssima “cara de paisagem“, sempre fiz questão de refutar tais afirmações, especialmente as feitas diante do meu filho:
– Ninguém aqui vai perder nada, estaremos todos ganhando com a chegada de outro bebê!
E nessa determinação, comecei a gestar junto com o bebê 2 um irmão mais velho numa perspectiva de amor, acolhimento, desejo e aceitação contrária à lógica dos ciúmes e da disputa engessada no imaginário coletivo.
Procurei relatos de famílias com experiências positivas para dividir, tracei um plano e coloquei em prática. Muito do que foi feito foi baseado na teoria de que, ao antecipar os acontecimentos vindouros, diminuem-se as angústias em torno do desconhecido. Já escrevi sobre isso no post Um passo à frente – recursos para minimizar os protestos infantis que sempre vale ser relido, por mim, inclusive.
Divido aqui com vocês minhas estratégias para o pré-natal do irmão mais velho que está pertinho de nascer e nos encantar com sua capacidade de amar ainda tão pequeno.
CONTAR A HISTÓRIA DO NASCIMENTO
Assim que descobri a gestação comecei a contar para Filipe como ele foi planejado, como foi a gestação, o parto e os primeiros meses de vida. Selecionei fotos e cheguei a montar um livrinho delas, mas não mandei imprimir. Mostro-as no computador mesmo e vou contando a história.
Acho importante ele saber que também foi gestado, que nasceu em casa, de um parto natural. Aproveito pra explicar como se nasce, por onde e o que se sente.
Reforço que bebês, ao nascer, não sabem falar, andar ou brincar e que precisam de muito colo e muito peito. Mostro fotos dele dormindo no meu colo, no do pai e no dos avós para que não haja tanto estranhamento ao ver o irmão o tempo todo com alguém e também porque percebo uma ansiedade da parte dele para brincar com o irmão e essa etapa ainda vai demorar um pouco.
Ele ama ouvir essas histórias, geralmente contadas quando amamento pois é um momento de maior vinculação e calma da parte dele.
Assiste ao vídeo do nascimento e reconta como foi, mas percebo que ainda se incomoda um pouco quando eu dou uns gritos de dor.
LER LIVROS SOBRE O ASSUNTO
Essa foi a parte difícil: encontrar livros que abordassem o nascimento de maneira natural, privilegiando o parto domiciliar, que é nosso plano e livros que falassem da chegada de um bebê sem mencionar os ciúmes ou sem mostrar imagens de mamadeiras e chupetas. Acabei optando por livros em inglês porque, em português, só encontrei dois títulos.
Ele gosta de ver as ilustrações e me ouvir contar as histórias e isso ao ajuda a entender o que está por vir.
LANÇAR MÃO DE RECURSOS ADEQUADOS À IDADE DA CRIANÇA
Crianças muito pequenas como Filipe respondem melhor ao concreto que ao abstrato. Por isso bonecos são uma excelente ferramenta para ensinar coisas e para permitir que eles recontem as histórias se posicionando a respeito delas.
Comprei um boneco ao estilo Waldorf (de pano, sem definição de sexo) que foi batizado de ‘mi imão”. Com ele Filipe brinca, troca fraldas, veste roupa, embala pra dormir e tudo o mais que tem vontade. De vez em quando solta espontaneamente que vai proteger o “mi imão”, que vai ajudar e outras coisas que ele considera importantes mas que não estão vindo do nosso discurso direto como uma imposição e sim como uma ideia que ele elabora da relação com um bebê.
Encomendei também uma boneca que gesta, pari e amamenta. É fantástica! Desde a primeira vez em que ouviu a história de como se nasce Filipe a memorizou e a repete com direito a efeitos sonoros e teatralização.
INCLUIR O IRMÃO MAIS VELHO NO PRÉ-NATAL
Procurei levar Filipe ao maior número de consultas. Isso requereu disposição do pai em entretê-lo enquanto eu conversava com a obstetra. A parte que o interessava era a ausculta do coração, que ele aprendeu a reproduzir e, por conta própria, criou uma gradação de sons relacionada ao tamanho das pessoas. O coração do bebê bate ‘tim-tim”, o dele “tum-tum” e o do papai “tão-tão”
RESPEITAR SUAS LIMITAÇÕES E SENTIMENTOS
Não insisto em contar essas histórias quando ele não demonstra interesse e numa ocasião, quando fui mostrar as imagens de uma utrassonografia para minha mãe e comentávamos sobre o bebê, ele tomou a pasta e disse bravo: “não, guardar”. Respeitamos o sentimento dele e não voltamos a olhar naquele momento, procurando dar atenção à brincadeira que ele nos mostrava.
Acredito que acolher essas reações com amor e falar sobre elas num segundo momento são atitudes que ajudam a criança a entender que ela continua sendo amada e querida e que não perderá seu espaço.
INCLUIR NOS PREPARATIVOS PARA A CHEGADA DO BEBÊ
Fizemos da arrumação do quarto e do enxoval um evento na família em que Filipe pudesse participar. As roupas dele saíram da cômoda e foram para o guarda-roupas, penduradas num cabide, porque agora ele já é menino e suas roupas ficam guardadas como as do papai.
Redecoramos o quarto mostrando que pensamos nele ao escolher os motivos da colcha: avião, helicóptero, foguete, balões e pipa.
GARANTIR O ESPAÇO DELA NAQUELA FAMÍLIA
Temos dito todo o tempo que o amamos, que ele é nosso menino querido e que se tornará irmão mais velho. Não tenho garantias de que não existirá o ciúmes, mas sou otimista, talvez até idealista.
Prefiro preparar Filipe para o amor e lidar com as dificuldades que ele experimentar a fadar a relação entre irmãos à competição e disputa.
Tenho fé no amor e, como diz o autor do livro de Hebreus (10:38), na Bíblia,
“o justo viverá pela fé”
Créditos
EDITADO APÓS O NASCIMENTO DE JOÃO
Sugiro a leitura de O irmão mais velho e a segunda esposa